domingo, 11 de março de 2012

Reflexões sobre a vida e a morte

Quem já passou mal, sem poder se levantar, ou já viveu uma experiência em que pensou - ou esteve mesmo próximo da morte, sabe que a vida é mesmo um sopro, e que este sopro pode passar e ir embora de um momento para o outro. A única certeza que temos nesta vida é que um dia iremos morrer. E pensem bem que grande ironia: nosso maior bem não nos pertence. Podemos começar a juntar vários bens e todo tipo de tralha, se tivermos uma pequena sobra de dinheiro, mas não podemos levá-los conosco para o outro lado da existência. Pensando nisso, me lembrei de um texto sobre Alexandre, o Grande, quando esteve ciente da iminência de sua morte:

Os três últimos desejos de Alexandre, o Grande, antes de morrer
Quando à beira da morte, Alexandre convocou os seus generais e relatou seus três últimos desejos:
1 - que seu caixão fosse transportado pelas mãos dos médicos da época;
2 - que fossem espalhados no caminho até seu túmulo os seus tesouros conquistados (prata, ouro, pedras preciosas...) e;
3 - que suas duas mãos fossem deixadas balançando no ar, fora do caixão, à vista de todos.
Um dos seus generais, admirado com esses desejos insólitos, perguntou a Alexandre quais as razões.
Alexandre explicou:
1 - Quero que os mais eminentes médicos carreguem meu caixão para mostrar que eles NÃO têm poder de cura perante a morte;
2 - Quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros para que as pessoas possam ver que os bens materiais aqui conquistados, aqui permanecem;
3 - Quero que minhas mãos balancem ao vento para que as pessoas possam ver que de mãos vazias viemos e de mãos vazias partimos.

Realmente, por mais saúde e sucesso que tivermos, não temos poder sobre a morte. Quando estamos doentes sem poder andar ou sair da cama, é que percebemos o quanto as coisas são passageiras, relativas; parece que nada mais importa; tudo perde a importância se não podemos sustentar, e manter os nossos afazeres, os nossos compromissos, as nossas coisas; se não podemos tirar a poeira que vai se acumulando sobre os móveis; se não podemos fazer um reparo qualquer na pintura de uma parede, consertar um eletrodoméstico qualquer; abrir a janela para fazer circular o ar e tirar o cheiro de mofo; tudo parece que vai morrendo junto com a gente. E de fato, se morrêssemos hoje que fim teriam nossas coisas? O que tiver utilidade para alguém certamente continuaria sendo usado por algum tempo. Mas e o que só tinha utilidade para nós, ou o que só nós sabíamos usar? É angustiante pensar que coisas que levamos tanto tempo para conquistar fossem transformadas em lixo por mãos ignorantes. Mas este certamente será o destino de muitos de nossos objetos ou bens pessoais. É também quando estamos doentes que percebemos que o ódio, a raiva e o rancor são um peso a mais que carregamos além da doença e é nessa hora que percebemos o quanto eles nos fazem mal. As pessoas que nos magoam geralmente nos fazem mal duas vezes: uma pela mágoa, decepção, e outra pela eventual raiva que sentimos por elas. Essa raiva e o rancor que experimentamos, seja momentaneamente ou durante toda a vida, pode atingir níveis tão altos que vão se transformando em doenças psicossomáticas: quando você fica tenso e com "ódio" daquela pessoa chata, daquele chefe mala, não é comum você ter dores musculares, no pescoço, ombros ou até mesmo "dor de cabeça"? Pois então, a raiva é um fardo pesado e só percebemos isso quando ficamos doentes. Mas que é difícil perdoar, deixar de lado e se livrar desse peso, ah!, isso é....
Nessas horas me lembro também daquele livro da Bíblia, o Eclesiastes. Nele o autor fala, em alguns trechos, frases e versos que ficaram famosos: "Debaixo do céu não há nada novo." "De que adianta o homem ganhar o mundo se perder a si mesmo?" É nesse tom de desilusão e lucidez que se estrutura este livro. E realmente passam-se dias e noites, o sol se levanta e se põe, mas a aflição e a angústia do homem continua em meio às mudanças, aos afazeres e ao desenrolar da vida. Cabe ao homem a dor e o sofrimento, mas também a alegria e a felicidade, embora nada dure ou permaneça. Essa é a porção que cabe ao homem em sua existência...